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Descubra o potencial do seu trabalho ser automatizado

Se você estiver acompanhando a velocidade vertiginosa com que a tecnologia tem evoluído, você certamente deve estar se perguntando (e talvez se preocupando) se (ou quando) as máquinas poderão (ou irão) te substituir no trabalho, ou como vão alterá-lo. Essa não apenas é uma questão válida, como também de essencial importância para o planejamento estratégico da sua vida: desde o início dos tempos, a tecnologia é o principal fator que transforma a nossa realidade, inclusive o trabalho. Foi assim com o fogo, com a roda, com a agricultura, e qualquer outra tecnologia que entrou na nossa história.

O agravante, hoje, é que as revoluções tecnológicas estão acelerando – até o início do século passado, o ciclo de vida de uma tecnologia impactante era sempre maior do que o ciclo de vida de uma pessoa. A gente nascia e morria sem ver grandes transformações no mundo ao nosso redor, a não ser se vivêssemos os períodos de revoluções. Agora, passamos a experimentar várias disrupções tecnológicas profundas durante o espaço de tempo da nossa existência – e isso complica as coisas, pois requer uma estratégia cada vez mais rápida de adaptação de habilidades, de forma inédita na história da humanidade.

Se antigamente não conseguíamos perceber a mudança, atualmente ela certamente não passa despercebida — veja a aceleração na evolução dos modos de trabalhar (de forma ampla) até chegarmos aqui:

  • Caça e Coleta – vários milhões de anos;
  • Era Agrícola – vários milhares de anos;
  • Era Industrial (1ª e 2ª Revoluções Industriais) – alguns séculos;
  • Era da Informação (3ª Revolução Industrial) – poucas décadas;
  • Era Cognitiva (4ª Revolução Industrial) – começou há poucos anos e já estamos falando em 5.0.

 

Nesse contexto, vivendo um ritmo tecnológico cada vez mais frenético e complexo, pensar na substituição tecnológica para profissões inteiras não é uma forma eficiente de analisar os impactos da automação no trabalho. O modo mais preciso e eficiente para avaliar a transformação tecnológica do trabalho é analisando as atividades que compõem o trabalho e verificar o potencial de automação de cada uma – assim, as profissões são impactadas de formas distintas pela tecnologia, em função do potencial de automação de cada atividade que as compõe.

”A tecnologia não elimina profissões, ela transforma — as profissões são impactadas de formas distintas pela tecnologia, em função do potencial de automação de cada atividade que as compõe.”

Dessa forma, para saber o potencial de automação de uma profissão (e consequente o potencial de substituição tecnológica), pense no trabalho desempenhado nessa profissão como um conjunto de atividades, e aí então, avalie cada atividade separadamente. Vários estudos apontam que atividades previsíveis repetitivas – tanto mental quanto físicas – são as mais suscetíveis de automatizar, enquanto atividades complexas que requerem soft skills são as mais difíceis de serem automatizadas (pelo menos atualmente, e em um futuro próximo).

Pensando, então, em atividades, normalmente, a primeira avaliação que faz para determinar se ela tem potencial de ser automatizada (ou não) é a sua viabilidade técnica de automação – ou seja, a tecnologia atual/emergente consegue realizar aquela atividade? A imagem a seguir traz uma análise publicada pela McKinsey sobre a viabilidade técnica de automação de atividades no trabalho.

É importante observar que o trabalho manual previsível (realizado em ambientes controlados, como indústrias), processamento e coleta de dados são atividades altamente suscetíveis a automação e tendem a ser cada vez mais rapidamente realizadas por máquinas. Some-se a isso as atividades de trabalho manual imprevisível e interações com Stakeholders, que também são suscetíveis à automação em breve. Nos Estados Unidos, essas atividades somadas representam 79% do tempo gasto pelos trabalhadores hoje em ocupações que possuem viabilidade técnica para serem automatizadas – sendo que 51% delas têm alto potencial para a automação.

Por outro lado, a viabilidade técnica para automatizar atividades que envolvem soft skills (gestão de pessoas e aplicação de expertise na tomada de decisões, planejamento e tarefas criativas) são as menores, tornando essas atividades menos suscetíveis à automação no curto prazo.

Até aqui, você provavelmente já deve ser capaz de calcular a viabilidade técnica das atividades do seu trabalho para avaliar o seu potencial de automação e o grau de impacto que isso pode causar na sua profissão. A próxima questão natural é como você deve se preparar para isso. As decisões que devem ser tomadas agora, em função disso, são — 1) o que devo automatizar e parar de fazer?; 2) o que preciso aprender, começar a fazer ou fazer melhor naquilo que as máquinas não têm (ainda) potencial técnico para fazer?

Esse é um bom caminho para começar a pensar nas suas habilidades para o futuro, no entanto, antes de tomar decisões, é importante ressaltar que a viabilidade técnica para automação não é o único fator determinante do potencial de automação de uma atividade. Existem 5 outros, a saber: custos para automatizar, escassez relativa de trabalhadores humanos; benefícios secundários da automação e considerações regulatórias e aceitação social da automação. Vejamos:

  1. Viabilidade técnica – avalia a disponibilidade técnica/tecnológica para se automatizar a atividade, como discutido acima;
  2. Custos para automatizar – mesmo que seja viável tecnicamente automatizar uma atividade, eventualmente os custos para a automação podem torna-la inviável. Por exemplo, se o custo de utilizar carros autônomos é muito maior do que carros com motoristas, eventualmente essa última opção será usada até que os custos sejam atrativos para investir na automação.
  3. Escassez relativa, habilidades e custos de trabalhadores humanos – apesar de ser tecnicamente viável se automatizar determinadas tarefas, isso pode não ser atrativo em alguns contextos, como é o caso em que o custo dos trabalhadores humanos já seja muito baixo. Por outro lado, em situações de escassez de habilidades específicas (dificuldade de encontrar trabalhadores qualificados) ou de altos custos/riscos para contratação/manutenção de trabalhadores humanos, a automação passa a ser atrativa.
  4. Benefícios secundários da automação – a automação pode trazer benefícios que vão muito além da redução de custos da atividade, e, que, eventualmente, podem ser mais importantes em determinadas situações, como: segurança, precisão, velocidade, menores impactos ambientais, etc.
  5. Aceitação social – a máxima “a cultura come a estratégia no café da manhã”, de Peter Drucker, aplica-se a qualquer tipo de estratégias, inclusive automação – a cultura não dá saltos. Por mais que nos tenhamos habituado com mudanças, elas ainda requerem um tempo cultural para acontecerem. Foi assim com o carro, o avião, a secretária eletrônica, com o telefone celular, e qualquer outra tecnologia no mundo. Assim, mesmo que exista viabilidade técnica para automação, sem aceitação social, ela não consegue ser implementada.
  6. Considerações regulatórias – por mais que todas os fatores anteriores (viabilidade técnica, custos, escassez, benefícios secundários e aceitação social), algumas atividades se inserem em contextos mais regulados do que outros, ou levantam novas questões regulatórias (como foi o caso do Uber e, agora, o carro autônomo), que podem adiar o processo de automação nessas áreas.

E aí? Conseguiu avaliar o potencial de automatização das atividades do seu trabalho e o impacto que isso terá na sua profissão e carreira? E, agora, mãos à obra e se qualificar para o futuro. #tamojunto 😉

Martha falou um pouco acerca deste assunto na Live do Expo Fórum Digitalks, assista a gravação:

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é PhD, futurista, escritora, autora dos best sellers “Marketing na Era Digital” e “Você, Eu e os Robôs”, palestrante keynote internacional premiada, com 5 TEDx no Brasil. É também embaixadora da Geek Girls LatAm no Brasil, instituição internacional sem fins lucrativos que fomenta a educação de garotas em áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM).

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