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Women in Tech: pela igualdade de género

Na área da tecnologia, a disparidade de representação no local de trabalho continua a ser abismal, com uma estimativa de apenas 25% de pessoas que se identificam com o género feminino a trabalhar no setor

 
Terminou a Web Summit, conferência que reuniu mais de 70.000 pessoas em Lisboa e que promete continuar a crescer nos próximos anos. Além dos habituais tópicos de tecnologia, inovação e política, este ano destaco um tema que tem vindo a ganhar importância e que se tornou agora incontornável: igualdade de género.

Muitas são as empresas que contemplam atualmente a Diversidade & Inclusão nos seus pilares e apostam numa cultura mais ampla, com pessoas de diferentes origens, etnias, géneros, religiões e crenças. Com efeito, vários estudos comprovam que a diversidade de pensamento e perspetivas aumentam a produtividade das equipas e a faturação das empresas, pelo que é do interesse destas últimas apostar em talentos diversificados.

No entanto, na área da tecnologia a disparidade de representação no local de trabalho continua a ser abismal, com uma estimativa de apenas 25% de pessoas que se identificam com o género feminino a trabalhar no setor. Considerando que 50% da população mundial é feminina e aproximadamente 60% dos estudantes são mulheres, de acordo com o National Student Clearinghouse Research Center, como explicar estes números?

“Vocês devem preocupar-se em eliminar a diferença entre géneros porque está a prejudicar as vossas empresas”, afirmou Amanda Maiwald, co-founder & CEO da Codary, na sua palestra “Closing the gender gap”, na Web Summit. “Existem inúmeros estudos que mostram que as empresas mais diversificadas têm melhores resultados, que a liderança feminina é mais eficiente e que as mulheres fundadoras de empresas geram mais lucro do que os homens fundadores”, indicou.

Contudo, o caminho é ainda difícil para as pioneiras empreendedoras. Amanda revelou, durante a sua presença em palco, que apenas 13 a 14% dos CEOs de startups são mulheres. Já de acordo com Lindsay Kaplan, co-founder da Chief, apenas 2% de Venture Capital (VC), isto é, capital de risco, é aplicado em startups com mulheres na equipa fundadora.

Na conversa com Rosemarie Ryan, co-founder e CEO da co:collective, no palco principal da conferência, Lindsay afirmou que “vai demorar mais de 100 anos para as mulheres atingirem a paridade com os homens no seu local de trabalho”, de acordo com estimativas recentes. “Eu não quero esperar tanto tempo – nenhuma de vocês quer esperar tanto tempo!”, exclamou em seguida, explicando que as associações como a Chief podem ajudar as mulheres a sentirem-se empoderadas e acompanhadas, ao proporcionarem encontros com outras mulheres com quem podem falar e a quem podem pedir mentoria.

Sabemos hoje que 92% dos CEOs de empresas na Fortune 500 são homens, e que apenas 20% dos lugares nos Conselhos de Administração pertencem a mulheres. No entanto, vemos progresso em cargos como CMO (Chief Marketing Officer), nos quais existe já equilíbrio de género de 50/50, segundo Lorraine Barber-Miller, Chief Marketing & E-commerce Officer na Philips.

“Eu sou otimista e acredito que as mulheres têm alcançado um tremendo progresso, mas gostava que tivesse sido mais ousado e mais rápido”, revelou Lorraine na sua intervenção na Web Summit. “Acho que existe aqui uma oportunidade para nós ajudarmos as mulheres e o talento a crescer nas nossas organizações”, assegurou.

Como promover a igualdade de género?

Este é um tema que tem vindo a ser debatido há largos anos, e cada vez mais as empresas, os seus líderes e os seus colaboradores estão conscientes do problema. Como fazer então para mitigar a disparidade de género?

Na sequência de toda a informação que reuni na Web Summit, deixo aqui quatro conselhos para as organizações e os profissionais em geral:

Contratar mais mulheres

Numa época em que o talento é cada vez mais escasso, convidar, formar e apostar em mulheres pode ser uma solução para a situação atual. Mas não basta abrir a porta: é necessário criar um ambiente em que as mulheres se sintam incluídas e valorizadas. Todas as ações da empresa devem refletir-se na diversidade e inclusão, e na integração de todos os colaboradores como iguais.

Entreajuda

O apoio e a cooperação entre mulheres são transversalmente referidos como passos na direção certa. Além disso, cada vez mais o feminismo deixa de ser exclusivo entre mulheres, e passa a ter aliados masculinos.

Dar o exemplo

A representação é fundamental. As mulheres sentem-se inspiradas e empoderadas quando veem outras mulheres em posições de topo. Apostar em liderança feminina para cargos C-Level poderá ser a peça do puzzle que faltava para atrair mais mulheres.

Empoderar a próxima geração

A educação tem um papel essencial na forma como construímos o futuro da nossa sociedade. Transmitir confiança às jovens raparigas, proporcionar-lhes as mesmas oportunidades ao longo da vida e educar também os rapazes a defenderem a igualdade de género podem levar a um amanhã mais igualitário.

 

“Anseio o dia em que seremos mencionadas apenas como «líderes» em vez de «mulheres líderes»”, afirmou Lorraine, a primeira CMO da Philips em mais de 130 anos. Uma frase que marcou, para mim, a Web Summit e um mote para as próximas edições.

 

Confira a cobertura especial do Digitalks no Web Summit.

cintia costa

Com mais de 8 anos de experiência em Marketing e Comunicação para clientes empresariais, especialmente dedicada ao mercado B2B (Business to Business), tem uma grande paixão pela indústria da tecnologia e inovação, e pelos temas de Women In Tech, Employer Branding, Marca Pessoal e Conteúdos de Marketing. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e com Pós-Graduação em Marketing Digital pelo ISCTE, a sua vontade de evoluir e aprender continuamente leva-a a explorar vários assuntos da atualidade.

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